Foz do Iguaçu – Um ano após ser eleito em primeiro turno com apoio decisivo do governador Ratinho Junior (PSD), o prefeito General Silva e Luna (PL) enfrenta uma crise política que desfez sua coligação e abriu três frentes de investigação na Câmara Municipal de Foz do Iguaçu. As Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) atingem áreas estratégicas da administração e expõem o isolamento do prefeito, que assumiu sob a promessa de gestão técnica e alinhamento ao campo bolsonarista.
Entre os apoiadores das investigações estão dois vereadores do PSD, partido do vice-prefeito Ricardinho e do governador, e um vereador do PL, legenda do próprio prefeito. A presença dos parlamentares dessas siglas evidencia a ruptura da aliança que garantiu a vitória eleitoral em 2024. Formalizado em outubro passado, o grupo G9 reúne nove vereadores e passou a atuar de forma autônoma, deixando o Executivo em minoria.
O pedido mais sensível é o da CPI do Foztrans, apresentado pela vereadora Anice Gazzaoui (PP). A investigação analisa o contrato de R$ 25,4 milhões, firmado sem licitação entre o Instituto de Transportes e Trânsito e a Companhia de Tecnologia da Informação e Comunicação do Paraná (Celepar). A estatal está em processo de privatização suspenso pelo TCE-PR; caso a desestatização avance, o acordo poderá perder a base legal da dispensa prevista no artigo 75, inciso IX, da Lei 14.133/2021.
A comissão também examinará o uso das receitas de multas, que se tornaram uma das principais fontes de arrecadação da autarquia sob a gestão Silva e Luna. Levantamento da reportagem aponta que, em 2025, 26,4% da receita total do Foztrans (R$11,8 milhões de um total de R$44,7 milhões) vieram de penalidades aplicadas a motoristas.
A CPI da Educação investiga o recolhimento dos livros “English After School”, elaborados por professores da rede municipal em parceria com universidades públicas. O caso teve início após o Sindicato dos Professores da Rede Pública Municipal (Sinprefi) ajuizar ação civil pública com pedido de urgência, sustentando que o recolhimento foi arbitrário e motivado por pressões políticas. O episódio ocorreu depois que um vereador bolsonarista publicou vídeos nas redes sociais acusando o material de “promover sexualização precoce”.
O Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) manteve, por unanimidade, a decisão que obriga a prefeitura a devolver os livros às escolas. A 6ª Câmara Cível entendeu que faltaram fundamentos técnicos e pedagógicos para justificar a medida. A comissão pretende apurar interferência política na decisão e irregularidades na compra emergencial de novos exemplares.
A CPI do Asfalto, proposta pelo vereador Evandro Ferreira (PSD), apura a qualidade das obras de pavimentação e a fiscalização da Secretaria Municipal de Obras. O pedido foi motivado por recomendação do Ministério Público do Paraná (MPPR), que orientou a prefeitura a deixar de usar asfalto a frio em operações tapa-buracos por considerar o método de baixa durabilidade.
O despacho, assinado pelo titular da 9ª Promotoria de Justiça de Foz do Iguaçu, promotor Luís Marcelo Mafra, foi endereçado ao prefeito e à secretária de Obras, Thaís Escobar, e recomenda o uso de métodos mais duráveis, como o concreto betuminoso a quente (CBUQ), para garantir maior eficiência e segurança viária.
Os três pedidos de CPI deverão ser lidos na reunião ordinária desta terça-feira (04). De acordo com o Regimento Interno da Câmara, apenas duas CPIs podem tramitar simultaneamente; a terceira permanecerá em espera. A Prefeitura de Foz do Iguaçu informou que aguarda a abertura formal das investigações para se manifestar.
Desarticulação
Nos bastidores, a crise é atribuída à falta de articulação política e à postura intransigente do então secretário-executivo do Gabinete, coronel Jorge Ricardo Áureo. A perda de apoio no Legislativo culminou em sua exoneração em outubro, após o rompimento da base governista. Para o lugar de Áureo, o prefeito Silva e Luna chamou o general Eduardo Garrido, que ocupava a Secretaria de Finanças e Orçamento.
Tanto Garrido quanto Áureo integram o círculo de confiança de Silva e Luna desde a gestão na Itaipu Binacional, durante o governo Jair Bolsonaro. Antes de disputar a prefeitura, o General também presidiu a Petrobras entre 2021 e 2022.
A dois meses de encerrar seu primeiro ano de gestão, o prefeito neófito acumula quatro baixas no primeiro escalão de seu governo: Secretaria da Mulher, do Meio Ambiente, da Comunicação e no próprio Gabinete.
Fonte: O Plural




