A hora da verdade chegou e escancara as tramoias de uma verdadeira organização criminosa que se apossou do estado brasileiro para destruir a democracia. A Operação Tempus Veritatis (Hora da Verdade), desencadeada pela Polícia Federal (PF) ontem (08/02), revela que a ditadura militar ainda ressoa entre muitos brasileiros, que não a enterraram no dia 15 de março de 1985. Por muito pouco, o golpe não obteve sucesso no dia 8 de janeiro do ano passado.
Não era ‘mimimi’ da esquerda, como muitos desdenharam, mas um plano arquitetado há meses, com núcleos organizados, que iam desde disseminação de informações falsas, apoio logístico e financeiro às manifestações em frente aos quartéis, respaldo jurídico e doutrinário a monitoramento de autoridades.
Ao acompanhar os desdobramentos da Operação Hora da Verdade, tenho que concordar com a colunista Eliane Cantanhêde, do Estadão: “Desta vez, todos os caminhos não levam a Roma, mas à prisão de Bolsonaro”. Levam ao ex-presidente porque ele participou ativamente das tratativas, como as investigações têm comprovado. Bolsonaro não só aprovou a minuta do golpe, mas vídeos mostram sua participação comandando reuniões que tratavam abertamente de estratégias criminosas para impedir as eleições e a atuação independente de instituições e autoridades brasileiras.
É estarrecedor saber que a estrutura do governo brasileiro foi usada por esses criminosos. Criminosos, sim, pois trataram e usaram recursos públicos para arquitetar um golpe de estado. O núcleo chamado de “Inteligência Paralela” monitorava autoridades, inclusive a localização delas, para que pudessem prendê-las assim que o estado de sítio fosse decretado. É estarrecedor! Por muito pouco o Brasil não voltou ao seu passado sombrio.
É importante lembrar que o golpe não começou no dia 8 de janeiro. Foi orquestrado por criminosos e o primeiro passo foi a criação de um núcleo responsável por atacar o sistema eleitoral. A disseminação de informações falsas de toda ordem incitou as pessoas a desconfiarem não só do sistema eleitoral, mas também da eficiência das vacinas, as fizeram acreditar que sua liberdade estava por triz, que suas casas seriam violadas, suas crenças desrespeitadas, criaram um inimigo e instauraram uma situação de medo e caos, que levaram essas pessoas para a frente dos quartéis.
Este cenário me faz lembrar da obra de George Orwell, 1984, e quanto o medo é uma engrenagem importante para o autoritarismo se infiltrar, se alastrar e se perpetuar. Por medo de um inimigo criado e alimentado por informações falsas, as pessoas que rogavam por liberdade, de forma antagônica, pediam a volta da ditadura militar, que cerceou direitos hoje em dia considerados bobos, como ouvir uma música qualquer.
Tempus Veritatis é, acima de tudo, um alerta sobre a importância de vigiarmos a democracia brasileira, porém, para isso, vamos precisar estancar o derramamento de informações falsas. É urgente não só punir os responsáveis pela tentativa de golpe, mas criar leis e mecanismos que impeçam a circulação de fake news, pois vimos o estrago que podem causar. Um novo processo eleitoral vem aí e as instituições precisam agir antes que a história se repita, pois saímos da ditadura, mas ditadura não saiu de muitos brasileiros.