Repórter foi encaminhando em camburão da PM para assinar termo circunstanciado.
A Polícia Militar deteve um jornalista que cobria uma ação de reintegração de posse no bairro Campo do Santana, em Curitiba, nesta terça-feira (10). Agentes alegaram desobediência e levaram Pedro Carrano, da redação paranaense do jornal Brasil de Fato, no camburão da viatura até o batalhão mais próximo, numa ação condenada pelo Sindicato e pela Federação Nacional dos Jornalistas.
A corporação disse que ele descumpriu regras ao se aproximar da área reintegrada. Ao começar o despejo das famílias pela manhã – cerca de 200, no local há seis meses – a PM estabeleceu uma barreira de acesso a 1 km do local.
Segundo a defesa de Carrano, o major que comandava a ação determinou o encaminhamento do jornalista depois de o encontrar junto aos moradores. Ao Plural, o profissional explicou ter acessado o terreno por um lado sem bloqueios.
“A barreira policial estava muito distante da ocupação. Nem moradores que precisavam retirar suas coisas, nem advogados populares podiam entrar. Eu tinha muitas perguntas e dali não conseguia as respostas. Eu acompanho aquelas pessoas, estava trabalhando e precisava saber para onde elas seriam realocadas, se havia presença da FAS [Fundação da Ação Social, da prefeitura]”, disse. “Ainda que fosse, nesse caso algo que a gente avalia como injusto, não havia situação de conflito que impedisse a imprensa de estar ali naquele momento”.
O jornalista teve o celular com o qual reportava a reintegração tomado pelos policiais e foi levado ao batalhão da PM para assinar termo circunstanciado. Ele acusou o comportamento dos agentes como cerceamento à liberdade de imprensa e ao trabalho dos jornalistas.
Já no batalhão, foi acompanhado de duas defensoras, que relataram dificuldades para entrar no posto. De acordo com Bárbara Esteche, uma das advogadas, o tenente responsável por encaminhar Carrano à sede da companhia teria usado o fato de a constituição de um advogado não ser obrigatória na assinatura de um TC e barrado a presença das profissionais. “De fato, não é. Mas se a pessoa tem um advogado, é direto dela mesmo assim”, afirmou.
A PM não se pronunciou sobre o impasse, mas emitiu nota sobre o encaminhamento. “Todas as equipes de imprensa respeitavam o perímetro de segurança estabelecido, no entanto, aquele repórter desrespeitou a ordem policial. Ele foi abordado e conduzido para a confecção de termo circunstanciado, que será encaminhado à justiça”, informou a corporação, que nesta segunda ganhou um novo comandante.
O coronel Sérgio Almir Teixeira foi empossado pelo governador Ratinho Jr. Ele substitui o coronel Hudson Leôncio Teixeira, alçado à chefe da Secretaria de Estado da Segurança Pública enquanto responde a inquérito policial aberto para investigar possível prática de prevaricação no âmbito de atos golpistas desencadeados no país pela perda de Jair Bolsonaro para Lula nas eleições gerais.
O agora secretário foi gravado ao dizer a manifestantes bolsonaristas que estava prevaricando por descumprir ordem do Supremo Tribunal Federal e mantê-los ocupando um trecho de rodovia. Os pontos bloqueados no estado terminaram de ser liberados completamente dois dias após a decisão da Corte.
Sindicato e Fenaj condenam
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (SindijorPR) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) condenaram a detenção de Pedro Carrano. “O SindijorPR e a Fenaj cobram da Secretaria de Segurança Pública, do comando da PM e do Ministério Público ações urgentes para garantir a segurança e o direito de trabalho”, diz o comunicado.
Fonte: Plural Por Angieli Maros