A sessão plenária desta terça-feira (2 de abril) na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) teve um debate mais acalorado entre um deputado estadual bolsonarista e outro petista, com o primeiro defendendo que as polícias do Paraná (em especial a Polícia Militar) recebam carta branca do governador do Estado para adotar uma “política da morte” contra supostos bandidos.
Tudo começou quando Ricardo Arruda (PL) foi à tribuna para discursar sobre a morte de Gabriel Fadel, soltado da PM de 26 anos que foi encontrado morto no último domingo dentro de um porta-malas em Campo Magro, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC).
“Fui no velório, vi o olhar de sofrimento da família, dos amigos e dos policiais. Um crime bárbaro, covarde, feito por criminosos. É o momento agora, o atrevimento foi tanto que esse rapaz foi sequestrado pelos bandidos, que o levaram para dentro dessa invasão [Comunidade Nova Esperança] e executaram ele no porta-malas do carro. Fui no velório e não vi ninguém dos direitos humanos. Não vi manifestação de rua de um dos deputados dessa casa que defende os criminosos, a quem ele chama de oprimidos. Esses oprimidos, covardes, cafajestes, canalhas, executaram friamente um policial. Friamente!”, criticou Arruda.
Em seguida, o parlamentar começou a defender que os policiais usem da violência para combater a violência, inclusive citando como exemplos a serem seguidos o trabalho que o Exército de Israel está fazendo na Palestina e o que a polícia de São Paulo está fazendo no litoral do estado, onde mais de 50 pessoas já foram mortas.
“Agora é o momento do governador do Estado colocar a mão de ferro e dar autonomia para que a polícia faça a faxina do crime organizado, exatamente a faxina que Israel tem feito contra o Hamas. Esse é o momento de dar a resposta aos criminosos, de dizer ‘aqui no Paraná tem lei’, ‘aqui bandido não se cria’. Quanto vale a vida de um policial? Vale muito. Quanto vale a vida de um criminoso? Nada, porque ele está aqui para matar, roubar, destruir, traficar, estuprar, e tem gente que tem a cara de pau de defender vagabundo aqui. Peço que a Polícia do Paraná aja com muito rigor. Não tem nada de investigação e passar a mão. Tem que fazer a faxina! Exatamente o que o governador Tarcísio determinou ao Secretário de Segurança, que lá no litoral de Santos estão fazendo a faxina. Já foram 40 ou 50 CPFs zerados. Está na hora de zerar o crime organizado aqui no Paraná!”, discursou ainda o político do PL.
Acusação e embate contra Renato Freitas
Na sequência, Arruda prosseguiu com seu discurso e partiu para cima do também deputado estadual Renato Freitas (PT), afirmando que um dos líderes da ocupação onde o soldado Fadel foi encontrado morto seria um funcionário do gabinete do parlamentar petista. “Não importa se vai morrer bandido. O que importa é que a lei seja cumprida. Vamos aproveitar o assassinato covarde dele [Gabriel Fadel] para fazer a faxina contra o crime aqui no Paraná”, reforçou Arruda.
Renato Freitas, então, pediu a palavra e pôde se manifestar sobre a situação ao final da sessão. Primeiro, lamentou não só a morte do policial militar em Campo Magro, mas de todas as pessoas vitimadas pela violência.
“Aquele que comemora as mortes nesta Assembleia não sou eu. Aquele que acabou de reivindicar, de clamar por mais mortes, mais assassinatos, não sou eu. Inclusive, fica meu repúdio à fala do deputado Ricardo Arruda, que supõe, deduz ou aponta que um servidor meu fosse líder de uma comunidade que assassinou alguém. Olha, quando ocorre um crime nos bairros nobres não se diz que o bairro Batel assassinou uma pessoa, que o bairro Juvevê assassinou uma pessoa”, afirmou Freitas, destacando que 1.200 famílias e em torno de 5 mil pessoas moram na comunidade em Campo Magro onde foi encontrado o carro e o corpo do policial militar.
“Cinco mil pessoas se envolveram no homicídio? E ele [Arruda] disse que a polícia do Paraná tem que fazer igual o Exército de Israel está fazendo na Palestina, assassinar homens, mulheres e crianças, indiscrimidamente nessa região. Ele acabou de dizer isso e isso é apologia ao crime, apologia ao terrorismo de Estado. E isso nós não admitimos, nós fazemos uma política que é pela vida”, prosseguiu o petista, comentando na sequência sobre o servidor lotado em seu gabinete.
“Esse servidor mora em Campo Magro, mora na ocupação e é uma liderança do movimento popular por moradia, que está lá com várias outras pessoas que estão lá honestamente, vivendo, plantando e colhendo paz em tempos de guerra. Não é a liderança do crime, de atos ilícitos.”
Fonte: Política em Debate