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Das ameaças nas redes à ‘bomba caseira’: entenda a dinâmica envolvendo as explosões em Brasília

Polícia Federal abriu um inquérito para investigar o caso

O inquérito ficará a cargo de Moraes, pois a Polícia Federal avalia que podem existir conexões com as investigações sobre os atos de 8 de janeiro e das milícias digitais. O episódio reforça o debate sobre a proteção da sede dos Três Poderes um ano e dez meses após os ataques golpistas . 

Um carro com placa de Santa Catarina pegou fogo no estacionamento do anexo IV da Câmara dos Deputados pouco antes da explosão nas cercanias do STF. Autoridades apuram a conexão entre os dois episódios, mas a suspeita é que o dono do veículo, Francisco Wanderley Luiz, provocou o incêndio no automóvel, seguiu pela Praça dos Três Poderes e morreu após a detonação do artefato perto da Corte. Policiais do Distrito Federal e integrantes do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) fizeram varreduras em busca de outras bombas na Praça dos Três Poderes e no entorno do Alvorada, residência oficial da Presidência. A Esplanada dos Ministérios foi fechada. 

Locais das explosões — Foto: Editoria de Arte

O episódio é considerado “grave” pela PF, e a decisão de entrar no caso foi tomada rapidamente. Ela se justifica pelo fato de o ataque ter ocorrido em órgão público federal. Em nota, a corporação afirmou que policiais do Comando de Operações Táticas (COT) foram acionados, além de peritos e agentes do grupo antibombas. 

— Há indícios de que a mesma pessoa que ocasionou uma explosão aqui (perto da Câmara) correu para o STF — afirmou o Sargento Santos, da Polícia Militar do DF, que desarmou o explosivo no porta-malas do carro. — Era uma bomba caseira, com pólvora e tijolos. O suspeito tentou causar uma grande explosão e não conseguiu. 

Nas redes sociais do suspeito, há publicações com ameaças a autoridades e um possível aviso sobre as explosões. Em uma das imagens, ele diz que a PF tem “72 horas” para “desarmar a bomba”. Em outra, o homem cita o dia 13 de novembro, quarta-feira, e fala em “grande acontecimento”. O suspeito, que foi derrotado na eleição de 2020 quando tentou ser vereador em Rio do Sul (SC) pelo PL, postou uma foto no plenário do STF e escreveu que “deixaram a raposa entrar no galinheiro”. Em outras mensagens, ele fez referências a militares, políticos e à Agência Brasileira de Inteligência (Abin). 

Segundo o governo do Distrito Federal, uma perícia vai ser feita para checar se o homem que morreu é o mesmo que aparece registrado como o dono do carro. 

As explosões ocorreram no momento em que havia movimentação de trabalhadores voltando para casa. A servidora do Tribunal de Contas da União (TCU) Layana Costa estava esperando o ônibus na frente do Congresso, quando viu o homem se dirigir ao STF. Ele levava uma sacola e chegou a dar um “joinha” para quem estava no ponto do ônibus. 

Ela ouviu uma primeira explosão e viu os seguranças do Supremo correrem em direção ao homem. Depois, houve um segundo estouro. Nessa hora, ele teria caído no chão. 

— Ele passou fazendo um sinal para a gente. Ouvi duas explosões — disse ela. 

A vendedora ambulante Tais Silva presenciou o momento das explosões. Ela tem uma barraca de bolos e sanduíches no túnel que liga a Câmara à Praça dos Três Poderes. 

— Teve uma primeira explosão na Câmara. Achei que era só um curto circuito, mas depois ouvi mais explosões na frente do Supremo. Achei que era um atentado e fiquei com medo — disse ela. 

Ailton Bezerra, que faz bicos nas imediações da Câmara, diz conhecer o dono do veículo que explodiu no estacionamento. Ele conta que na quarta-feira conversou com o suspeito e que viu quando ele saiu rumo à Praça dos Três Poderes com um paletó cheio de corações verdes. Segundo Ailton, ele pegou uma mochila no veículo antes. 

No STF, o plenário foi evacuado após as explosões — alguns ministros ainda permaneciam no local após o fim da sessão. Em nota, o STF afirmou que “dois fortes estrondos foram ouvidos e os ministros foram retirados do prédio em segurança”. O texto diz ainda que “servidores e colaboradores do edifício-sede foram retirados por medida de cautela”. A nota acrescenta que “mais informações sobre as investigações devem aguardar o desenrolar dos fatos” e que “a Segurança do STF colabora com as autoridades policiais do DF.” 

O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, conversou por telefone com Lula, Andrei Rodrigues e com a vice-governadora do DF, Celina Leão, além de ter falado por mensagens com o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, que está na Itália. Barroso acompanha os desdobramentos junto à segurança do STF. Ibaneis tem volta prevista para Brasília na sexta-feira e afirmou que acompanha o caso remotamente “desde o início”. 

No Alvorada, de onde conversou com Barroso, Lula estava com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no momento das explosões. Eles estavam reunidos para tratar dos detalhes do corte de gastos, que será anunciado depois das reuniões do G20. 

— Vivemos um tempo de violência política — afirmou Haddad ao GLOBO, após deixar o Alvorada. 

Já o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse ter conversado com a vice-governadora do DF após as explosões. 

— Claro que desde o 8 de Janeiro mudaram todos os padrões de segurança dos prédios dos três Poderes. Vamos avaliar (se será necessária mais mudanças). Estão investigando os arredores porque, obviamente, o risco não está totalmente descartado. É momento de se aferir as circunstâncias e ter a cautela devida. 

O ministro do STF Flávio Dino, que era o ministro da Justiça nos atos do 8 de Janeiro, se manifestou nas redes sociais após o episódio. “A Justiça segue firme e serena. Orgulho de servir ao Brasil na Casa da Constituição: o Supremo Tribunal Federal”, escreveu.

Fonte: O GLOBO


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