Jorge Javorski nunca andou com facilidade. Na verdade, o fato de ele ter conseguido andar foi um alívio para a família – vítima da pólio ainda bebê, o menino demorou muito mais do que os outros bebês para conseguir parar de pé e dar os primeiros passos. Só exercícios frequentes e uma imensa dose de esforço permitiram que ele caminhasse sozinho.
Durante seis décadas, cada passo foi uma conquista, e Jorge fez uma longa caminhada. Se formou em jornalismo, casou com Regina, teve um filho, Bruno, e se tornou o repórter de referência para a área de saúde no Paraná. Trabalhou em diversos jornais, o que inclusive implicava enfrentar a falta de acessibilidade. Numa das redações, todos os dias enfrentava uma escada para chegar à sua mesa. Os trinta degraus talvez fossem nada para outros repórteres, mas para ele sempre foram um perigo real.
A marcha, prejudicada pelos efeitos da pólio, nunca foi perfeita, e por várias vezes o equilíbrio faltou – numa dessas vezes, lá pelos quarenta anos de idade, escorregando, Jorge teve uma fratura que piorou ainda mais sua marcha. Mas ele sempre foi insistente, e se recuperou. Mas agora, aos 63, a situação não é mais a mesma. Depois de outra queda, o quadro foi se agravando e ele não conseguiu mais escapar da ajuda: a bengala foi trocada por um andador, e depois veio a cadeira de rodas.
“Eu tenho uma síndrome que afeta as vítimas da pólio depois dos sessenta anos”, conta ele, sempre ao lado de Regina, em seu apartamento no Água Verde – hoje parcialmente adaptado para a cadeira. “A marcha vai piorando e chega uma hora que você não consegue mais”, diz Jorge, que segue trabalhando com jornalismo para a área de Medicina.
Regina é a grande parceira da nova fase, assim como foi de todas as outras. Ajuda com a cadeira sempre que pode. Mas tem tarefas que só Bruno, hoje aos 30 anos, consegue fazer. Quando o piso é mais difícil, por exemplo, empurrar a cadeira exige força. E em algumas portas do apartamento a cadeira simplesmente não passa: Jorge precisa ficar momentaneamente no andador até chegar ao outro lado.
Vacina contra a pólio
Na época em que Jorge nasceu, não havia vacina da pólio disponível no Brasil. A doença não tem cura e afetava uma quantidade imensa da população. “Sabe que durante um tempo os médicos até desconfiaram que eu não tinha pólio, que foi outra coisa. Porque nem isso na época era fácil saber”, diz ele hoje, com o diagnóstico mais do que confirmado.
Desde os anos 80, porém, a vacina é de fácil acesso e a poliomielite é vista como uma doença erradicada no Brasil. No entanto, com as campanhas antivacinação que circulam na Internet e em parte da imprensa, os números de adesão à vacina tiveram redução importante. Pior ainda nos anos de pandemia.
“Há uma série de notícias fantasiosas na imprensa e principalmente na Internet”, explica Victor Horácio de Souza Costa Júnior, presidente da Sociedade Paranaense de Pediatria e infectologista do Hospital Pequeno Príncipe. “Não há risco nenhum na vacina, e em tese os pais que negam a imunização par a os filhos podem inclusive ser punidos”, afirma ele.
Jorge, um integrante da última geração que conviveu com a pólio, sabe bem os riscos de a doença voltar. E por isso faz campanha para que pais e mães não deem ouvidos às fake news espalhadas por aí e para que levem as crianças para tomar as doses necessárias – só assim não teremos novas gerações afetadas por um vírus cruel e que espera só um deslize nosso para voltar com tudo.
Índice de vacinação em Ivaiporã
Em Ivaiporã, o índice de vacinação, é excelente e apresentou crescimento desde 2016. Os dados são da Secretaria Municipal de Saúde:
2022 – 105,5%
2021 – 96,47%
2020 – 104,37%
2019 – 98,92%
2018 – 98,92%
2017 – 91%%
2016 – 74%
Fonte: Rogério Galindo / O Plural