No entanto, ofícios encaminhados pelo órgão à polícia revelam pelo menos mais dois corpos, de um homem e um natimorto, também teriam sumido do instituto. As mortes ocorreram entre 2014 e 2015.
Um deles é o do jardineiro Miguel Antônio da Cruz, de 53 anos. De acordo com documentos obtidos do processo que apura os desaparecimentos, ele foi encontrado morto em 31 de agosto de 2014 em um terminal rodoviário da capital.
Por dois anos, a família achou que ele estava desaparecido, mas souberam da morte após irem ao IML atrás do corpo. Segundo Lucinéia Pereira da Silva, esposa de Miguel, e Lucilaine Regina da Silva, filha do casal, o instituto não soube dizer onde o cadáver estava.
A Polícia Científica informou que, como os casos são antigos, não irá se manifestar.
Veja abaixo as perguntas e respostas dessa investigação.
Quem são os desaparecidos?
A polícia apura o desaparecimento de pelo menos quatro corpos, mas apenas um foi identificado oficialmente. É o do jardineiro Miguel Antônio da Cruz. Segundo documentos fornecidos pelo próprio IML, os outros cadáveres são de:
- Homem que tinha entre 30 e 35 anos
- Homem que tinha entre 50 e 60 anos
- Natimorto, sem informação sobre a idade
Como os corpos desapareceram?
Um ofício do diretor administrativo do IML em 2017, data em que os desaparecimentos foram percebidos e o inquérito policial instaurado, mostra que o instituto não possuía, naquele ano, “um setor próprio de controles bem capacitado”.
Em outro documento, este de 2019 e que consta no processo, o IML explicou que, na época dos desaparecimentos, armazenava aproximadamente 170 corpos “sem que as administrações anteriores do IML ou da Polícia Científica tivessem adotado qualquer medida para solucionar este gravíssimo problema”.
Seis anos após o início da investigação, a Polícia Civil não conseguiu explicar como os cadáveres sumiram.
Alguém foi preso?
Ninguém chegou a ser detido desde o começo da apuração. A Polícia Civil recebeu documentos encaminhados pelo IML, como laudos cadavéricos dos corpos, mas não houve responsabilização até o momento de algum suspeito.
Como e quando as pessoas morreram?
Segundo os laudos, o primeiro homem, que tinha entre 30 e 35 anos, foi vítima de agressão física. A causa da morte do segundo, que tinha entre 50 e 60 anos, continua desconhecida.
Conforme o IML, Miguel Antônio da Cruz morreu por conta de um tromboembolismo pulmonar. Ele foi encontrado morto no Terminal Rodoviário do Guadalupe, no centro de Curitiba, levado para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e, depois, encaminhado ao IML. As informações são do próprio instituto.
A causa da morte do natimorto também permanece sem resposta.
Foi aberta alguma sindicância?
A possível omissão da Polícia Científica em não ter instaurado procedimento interno para apurar os desaparecimentos motivou a abertura de um inquérito civil pelo Ministério Público do Paraná (MPPR), em julho deste ano.
Em 2017, um documento indica que a Secretaria de Segurança Pública (Sesp) chegou a determinar a abertura de procedimento administrativo, mas o andamento processual não indica se o processo de fato começou.
A reportagem apurou que o Ministério Público foi oficiado pela Polícia Civil com a alegação de que a Polícia Científica não instaurou o procedimento para investigação, o que motivou o novo inquérito civil.
Quem retirou os corpos?
O processo que a reportagem teve acesso não indica a autoria ou mostra se há suspeitos dos desaparecimentos dos cadáveres.
Questionada sobre o caso, a PC-PR apenas confirmou que o inquérito continua em andamento.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública (Sesp) disse que as investigações são sobre o “antigo IML de Curitiba”.
“Determinadas práticas que ocorriam no antigo IML de Curitiba não existem mais nas Unidades da Polícia Científica, uma vez que atualmente os fluxos são determinados por rigorosas medidas de controle e procedimentos operacionais. Além disso, a Polícia Científica do Paraná, em 2022, passou a operar através de Unidades de Execução Técnico-Científicas, executando de forma integrada os serviços periciais de medicina legal e criminalística”, disse a pasta.
A Polícia Científica afirmou que, como os casos são antigos, não irá se pronunciar.
Fonte: G1 Paraná